terça-feira, 12 de julho de 2016

Notícias do front

Capítulo anterior O dia seguinte
- Não, não é um bom dia – Tatiana estava relutante. – Já te falei que é final de mês e isso aqui fica uma loucura. Sem sair para almoçar, eu normalmente só vou para casa depois das dez, imagine se queimar uma hora de almoço com você. Vamos deixar para a sexta? Eu durmo aí, enchemos a cara ao seu estilo e você me conta o que provavelmente eu já sei.
Não, ela não sabia. Na cabeça dela, a festa de formatura deve ter sido mágica. Eu arrumado, Juliana linda, não aguentamos a onda, nos agarramos e começamos um relacionamento no mesmo dia. Claro que ela estava pensando nisso. Por mais que me conhecesse como poucos e soubesse que comigo as coisas menos improváveis são as mais corriqueiras, ela estava convincente de que foi um episódio em que tudo deu certo com um final feliz. Analisando com calma, até teve um final relativamente feliz, mas não como imaginava.
De qualquer forma, Tatiana tinha razão em relutar ao meu convite de almoço. Cansei de sair tarde da noite de casa para busca-la só para que não voltasse sozinha. Era uma rotina escrota de todo fim de mês. Algumas das vezes foram no meio da madrugada. Isso sem falar da possibilidade de colocar o emprego em risco ao demonstrar falta de dedicação nessa época tão atribulada.
- Só vou te disser uma coisa... Está me ouvindo? Juliana ficou com um cara na minha frente e voltei para casa de mãos abanando.
- AHÁ! SE FUDEU! TROUXA – ela emendou uma rápida gargalhada e prosseguiu. – Passe aqui uma e meia da tarde. Quero cada detalhe dessa história.
Para o inferno, né? Jamais aguentaria até a sexta-feira. Precisava contar para alguém o que tinha acontecido no último final de semana. Deixar para falar com qualquer outra pessoa, soaria como uma adolescente apaixonada que não aguenta com a língua entre os dentes e, convenhamos, sou um adulto maduro. Sem risos, por favor. Para a Tatiana não teria problema algum, afinal somos confidentes um do outro. O que importa é que, antecipando o fato da Juliana e o rapaz na festa, surgiu a curiosidade e, logo, foi ela quem desistiu de esperar até sexta. Portanto, não tem mais como ela ficar resmungando que a convenci a fazer algo contra a sua vontade. Mal sabe ela que a tendência é piorar.
De imediato, ela se indignou com a escolha do restaurante. Ela queria ir a pé até um pequeno restaurante a quilo quase na esquina da rua da sua empresa. Além de ser a quilo, era um lixo de local. Não bastante, teria de passar boa parte da conversa na fila para se servir. Todos sabem que isso não tem funcionalidade alguma, exceto em novela para fazer marcação de cena. Subimos na moto e fomos para outro restaurante um pouco distante. Nada mais que cinco quadras ou seis. Entramos, pegamos a primeira mesa que estava disponível e Tatiana já acenou ansiosa para o garçom. Eu fui mais rápido quando ele chegou:
- Uma cerveja, dois copos e o cardápio.
- Dois copos? Você está bêbado?
- Não, mas pretendo começar nesse momento.
- Pois fique apenas você. Já não basta me foder, quer enfiar o dedo no meu cu?
- Ainda bem que não estamos na fila do restaurante a quilo com pessoas ao redor – interrompi para o garçom entregar o cardápio à Tatiana e servir a cerveja nos dois copos. – Larga de palhaçada. Vai saber de um evento histórico de boca seca? É um copinho apenas! Depois você enche a boca de bala de hortelã.
Escolhido os pratos, brindamos e demos um bom gole cada. Voltei a encher os dois copos e ela nem percebeu. Iniciamos a ação automática de beber.
Comecei a contar a história da formatura com detalhismo de causar inveja a Kerouac. Roupas, músicas, pessoas e até nas falas fui cirúrgico. Momentos pontuais eram interrompidos por reflexões ou devaneios complementares. Algo que já devem ter visto em algum lugar por aqui. Tamanho foi o cuidado em contar o ocorrido que, quando finalmente chegaram os pratos, tinha acabado de contar apenas sobre ter pegado a melancia no balcão de bebidinhas coloridas. No momento que diria sobre avistar Juliana beijando o outro rapaz, fiz uma pausa dramática e aproveitei para pedir uma segunda garrafa de cerveja.
- E rápido – completou a Tatiana. – O assunto aqui na mesa está fervendo.
Falei do momento quando a garrafa chegou. Tatiana vibrava e ria da minha desgraça. Eu escolhi dar um gole vagarosamente. Um gole de quem está no controle de tudo e pode esperar pelo seu momento. Prossegui falando que procurei a Verônica e flagrei aquela cena dela transando nos fundos da cozinha. Tatiana bateu na mesa. Alguns clientes ao redor se assustaram. Era como um segundo gol logo após o primeiro para ela. Eu dei meu segundo gole de senhor do momento, só que dessa vez antecedido por um brinde no ar. Terminado, com a boca ainda molhada com a cerveja, encerrei a parte da formatura.
- Porra, baby. Você me prometeu que não voltaria de moto bêbado. Larga de ser irresponsável. Um dia você morre e não terei de quem rir das desgraças.
Achei melhor nem responder com uma gracinha. Correria o risco de ela ter uma súbita crise de consciência e decidir parar de me acompanhar na cerveja. Segui falando do dia seguinte. Ela achou muito fofo da parte da Juliana ir até a minha casa para me receber, como também a minha decisão de não recebê-la com a minha casa naquele estado. A cada instante, Tatiana ficava mais fã da Juliana. Para seus parâmetros, ela era a pessoa ideal, no momento certo, para me recolocar nos trilhos. Era, supostamente, a motivação que tanto precisaria para sossegar e pensar em alguns objetivos que não deram certo em um passado recente, como família, principalmente.
- Se ela fosse um bom partido mesmo, não teria assistido passiva ao momento que me resetei assim que chegamos ao motel.
- Você fez isso na frente dela? Você é mais idiota que eu imaginava.
- Era necessário – acenei para o garçom pedindo mais uma garrafa. – Era muito necessário.
- Não podia ter sido no banheiro escondido?
- Podia. Nem pensei nisso. Ou meu subconsciente sabotador pensou e escolheu exatamente assim. O fato é que fiz e ela não interrompeu, sequer recriminou.
- Claro que não! Naquela condição de redenção dela, a última coisa que faria era se intrometer nas suas ideias de merda. Assistir e entender melhor no que está se metendo é melhor que interromper qualquer ritual bizarro. Inclusive se resolvesse coçar o céu da boca com um cabo de vassoura enfiado pelo cu.
Preciso confessar que em certas falas da Tatiana eu me via claramente. Tantos anos na minha companhia estavam começando a moldar o seu jeito de se expressar, de pensar e se comportar publicamente. Meu pequeno broto de feijão estava crescendo rapidamente no tufo de algodão umedecido com álcool e já ofendia gratuitamente o ânus de todos no jardim que lhe cercava.
- Tá, você então apagou por conta da resetada. Entendi. Daí acordou mais tarde, abraçou a Juliana e voltaram a dormir novamente agarradinhos. Você e essa mania fofa de ser. Acaba derretendo qualquer uma e, ao final, elas se esquecem do escroto que você é. Enfim... Prossiga... Uma hora acordaram de vez. E aí? Até agora não teve beijo, agarradas, sexo ou despedida melancólica. O que aconteceu? Que horas começa o conto de fadas?
Imagino que ela estivesse ansiosa esperando a parte em que tudo começou para valer, quando a Juliana acordou em definitivo e eu estava no banho expulsando de vez a ressaca. Ao sair do banheiro, apenas enrolado na toalha, lá estava ela, apenas de calcinha e camiseta básica. Era uma cena linda que não me considerava merecedor. Juliana estava de pé, em frente a um espelho ajeitando os cabelos. Tem coisa mais sexy do que mulher mexendo nos cabelos? Ela os prendeu com um rabo de cavalo bem alto sem ser no topo da cabeça. Adoro quando prendem os cabelos assim. Pescoço de fora é o meu fraco. Aproximei-me por trás e, em ser muito invasivo, cheirei seu pescoço. Ela consentiu oferecendo mais Juliana para ser explorada. Entrei no jogo. Sem pressa, continuei passeando pelo seu pescoço e nuca. Cheirava um pouco aqui, uma respiração quente sendo solta ali e barba roçando de leve acolá. Minhas mãos que antes estavam em sua cintura começaram a entrar no jogo também. A primeira desceu pela lateral da sua coxa. Estava toda arrepiada. De maneira sincronizada, abri bem a mão e apertei sua coxa enquanto passava com um pouco mais de intensidade a barba na junção do pescoço com o ombro de Juliana. Tudo do lado esquerdo dela que ficou ouriçado de ponta a ponta. Ela, instintivamente, se contorceu de leve para essa direção. O lado direito ficou esquecido e exposto. Sem mudar o que já tinha iniciado, subi a mão direita de uma só vez e a enchi com seu peito direito. O mamilo estava muito enrijecido. Quando o envolvi por inteiro com minha mão, ela arqueou a cabeça para trás. Sua respiração estava ofegante, sua pele quente e o corpo beirando a total sensibilidade. Mexi novamente a mão esquerda e, sem firulas, a posicionei no meio de suas pernas. A calcinha já estava molhada. Bem molhada. Juliana não tinha mais controle sobre o corpo. Laçou um dos braços por trás da minha cabeça pressionando mais ainda minha boca em seu pescoço. Contorceu a cintura para trás pressionando sua bunda contra o meu corpo que estava nu, pois a toalha caiu tinha tempo. Ela estava acesa, com cada parte do seu corpo excitado, e sequer tínhamos nos beijado. Foi quando a virei de frente para mim e a coloquei encostada no espelho. Segurei firme sua cintura com ambas as mãos que depois desceram até a parte logo abaixo de sua bunda. Enchi minhas mãos com firmeza e a levantei. Ela cruzou minha cintura com suas pernas e meu pescoço com seus braços. Primeiro beijo. Intenso, ofegante e descontrolado. Sim, descontrolado. Aquele beijo que os dois tanto querem e estão tão excitados que não têm mais controle sobre os movimentos, pressão da boca, ritmo da língua ou mordiscadas de lábios. Tudo de uma só vez e ao mesmo tempo querendo ser protagonista na ação. Em alguns momentos, saía de sua boca para morder de leve seu queixo, para esfregar minha barba em seu rosto e para respirar forte em seu pescoço. Juliana se contorcia e se entregava cada vez mais, mesmo parecendo impossível, pois já estava aparentemente totalmente entregue. O que antes eram sons discretos, agora viravam gemidos de reação a cada movimento meu. Sem sair daquele nó de pessoas, levei-a até a cama. Juliana ficou por baixo de frente para mim. Parecia que nunca mais iríamos nos desenroscar. Nenhum dos dois tinha pressa, mesmo em uma cena claramente afoita. Era intensidade, volúpia e excitação, mas nada de afobação. Em determinado momento, Juliana interrompeu aquele duelo de esgrimas que nossas cabeças faziam. Segurou meu rosto com as duas mãos, afastou um pouco do dela, olhou-me com um olhar fatal que foi até a alma e disse:
- Promete que vai me dar isso todos os dias.
- MEU DEUS! QUE INVEJA! – Gritou a Tatiana que depois sinalizou ao garçom para trazer mais uma cerveja. – Você é mesmo bom nisso! Bem, em alguma coisa tinha de ser bom, né? Acho que fiquei excitada. Então foi muito bom mesmo, né?
- Que nada! Foi uma merda.
- Como assim?
Pois é, foi uma merda. Queria muito que tivesse acontecido daquele jeito. Infelizmente foi o oposto. Juliana deve ter acordado com um som ecoando pelo quarto. Era eu que estava vomitando tudo que me restava dentro do corpo no banheiro. Pude ouvir quando ela gritou com a voz ainda embolada perguntando se estava tudo bem. Respondi, com uma voz meio afogada, que iria ficar. Era um diálogo bem peculiar. Quando saí do banheiro, Juliana estava literalmente largada de bruços na cama. Rosto enfiado no espaço entre os dois travesseiros, cabelos para todos os lados e uma calcinha meio enfiada na bunda deixando apenas uma nádega inteira exposta. Preciso reconhecer que não era uma imagem muito sensual, tão pouco se aproximava da cena ideal, contudo era a Juliana. Pela primeira vez ela estava por inteira só para mim. Pelo menos o corpo, pois desconfio que naquele momento ela tinha voltado a cair no sono. Deitei-me ao seu lado com o rosto próximo ao dela. Juliana estava apenas sonolenta.
- Você está com bafo de vômito – ela disse e depois riu.
- Não estou, nada! Eu fiz gargarejo por um bom tempo.
- Você então está com bafo de vômito aguado.
- Pior você com esse bafo de bom dia.
- O que seria um bafo de bom dia?
- É uma mistura de boca seca, com resto de baba, cheiro de leite velho e um toque de pigarro esquecido na garganta.
- QUE HORROR! – Juliana saiu em disparada para o banheiro enquanto fiquei na cama rindo sozinho.
Já de volta ao quarto, ela se sentou ao meu lado. Ficamos nos olhando por um tempo em silêncio, até que nos beijamos. Foi uma coisa dessincronizada. Eu tentava algo com intensidade e fervor, ela agia com lentidão e carinho. Queria aperta-la, toma-la de vez, fazê-la acender. Em contrapartida, Juliana vinha com toques leves, poucos movimentos e uma aparente falta de empolgação. Quando ela finalmente percebeu que poderia ir mais adiante e colocar mais calor na coisa, eu já não era mais capaz de corresponder. Estava com um dos braços dormentes e o pescoço doendo de tanto levantar a cabeça para beijá-la. Desistimos. Ficou um clima frustrante no ar.
- Não está encaixando, né? – Ela perguntou meio que sacramentando.
- Calma. Eu sou melhor que isso.
Trouxe Juliana para se deitar na cama e me posicionei sobre ela entre suas pernas. Voltamos a nos beijar e a coisa fluiu com mais naturalidade. Ainda não era aquela coisa desesperadora que pretendia, todavia já rolava mais interação. Os dois estavam em uma mesma sintonia finalmente. As mãos começavam a explorar os corpos, assim como pescoço e colos eram desbravados pelas bocas. Um ritmado movimento de quadris começou a se coordenar. Nossas pélvis se friccionavam e a respiração se tornava ofegante aos poucos. Tirei sua blusa e lá estavam seus peitos. Lindos, firmes, enrijecidos e do tamanho exato da minha boca. Não sabia por qual começar. Revezava minha boca entre eles para não provocar ciúmes. Queria que ambos fossem os meus favoritos. Ela com a mão por de trás da minha cabeça me pressionava contra eles pedindo mais. Sim, finalmente bons ventos ao nosso favor. Desci pelo seu corpo beijando sua barriga e cintura. Nenhum espaço foi esquecido. Enquanto beijava o topo da sua coxa e parte da virilha, comecei a tirar sua calcinha. Juliana já estava bem à vontade e emitia sons que reforçavam isso. Ao indicar que iria cair de boca no meio de suas pernas, ela me puxou pela cabeça de volta para cima.
- Não!
- Por que não?
- Não tomo banho desde ontem pela manhã quando saí para ir ao seu encontro.
- Larga de frescura.
- Não!
Seria perda de tempo continuar tentando argumentar com ela. Mesmo que quisesse, ela já tinha me prendido com as pernas na cintura novamente. Estava com a movimentação limitada. Para garantir que não tentaria novamente, ela, com o pouco espaço que tinha, começou a retirar a minha cueca, única peça de roupa que estava vestindo. Tentei ajudar com as mãos, mesmo sem poder me levantar por estar preso por suas pernas. Ela com um dos pés empurrou a cueca para baixo que saiu totalmente. Era aquele o momento. Os dois estavam ansiosos por isso há meses. Continuamos obviamente nos agarrando, pois não somente o desejo era enorme, como precisávamos dar um ar de naturalidade à coisa. Tentei só com o movimento do quadril e não consegui. Não achava o buraco. Péssima frase, eu sei. Insisti mais uma vez confiando apenas na movimentação dos corpos. Cheguei a parar de beijar a Juliana para melhor me concentrar na sensibilidade do meu pau e entender onde ele estava. Como se existissem muitas opções de lugares, não? Ainda assim, nada. E nem era porque ela estava seca, muito pelo contrário. Juliana estava encharcada e receptiva. Na terceira tentativa, que deveria ter sido feita com a ajuda da minha mão depois de duas tentativas fracassadas, aconteceu um novo fiasco causando evidentes expressões de frustração em nossos rostos. Juliana então ressecou e eu fiquei não tão duro quanto antes.
- Ok, pode repetir a frase – disse para ela.
- Qual frase?
- Não está encaixando – os dois riram e o clima foi apagado como uma ducha de água fria.
- MAS VOCÊ É MUITO MAIS IDIOTA DO QUE IMAGINAVA – Tatiana não se conformou, virou seu copo e acenou por mais uma garrafa para o garçom. – Quando finalmente consegue o clima, resolve fazer graça?
Ela tinha razão. Não tinha motivos para se espantar comigo, mas tinha razão. Minha boca sempre teve vontade própria em relação ao cérebro. Como já disseram uma vez e não canso de repetir, meu maior defeito é a boca que comumente comete insubordinação ao cérebro. Principalmente em situações que me deixam desconfortável. E aquela era uma situação clássica de me deixar incomodado e abrir a boca. O pior é que não tinha motivo para isso. É algo comum acontecer essa dificuldade na penetração, especialmente em primeiras transas. Existem pessoas e pessoas. Já aconteceu de estar com alguém não tão excitada assim, com uma quase total ausência de lubrificação, e, ainda assim, achar o acesso e entrar de primeira com a facilidade que um Fusca sem freio desce uma ladeira. Em contrapartida, exatamente como foi com a Juliana, a pessoa está molhada, disposta e acessível, todavia parece aqueles “organiza fila” em bancos no quinto dia útil do mês. Simplesmente não flui.
- Tá – Tatiana pegou a nova garrafa, serviu nos dois copos e prosseguiu. – E tentaram depois?
Até esbocei que iria tentar, mas Juliana cortou. Alegou que precisava voltar para casa. A mãe deveria estar preocupada. Não suficiente, tinha uma entrevista de emprego de tarde na zona sul. Mesmo assim, ela combinou que a buscasse em Copacabana no início da noite. De lá, sairíamos para comer algo, beberíamos uma cerveja e recomeçaríamos de onde terminamos, mas agora na minha casa. Topei, ela foi embora e o resto Tatiana já sabia.
- Peraí. Você então veio direto do motel almoçar comigo?
- Sim – respondi enquanto contava discretamente quantas garrafas já tínhamos na mesa. – Liguei para você enquanto ela tomava banho.
- Não conseguiu aguentar um minuto sequer para me contar – Tatiana ria. – Você é muito carente mesmo. Não sei como ainda fico impressionada com isso.
- Não sei como ainda fico impressionado conosco. Olhe só quantas garrafas esvaziamos. Isso em... Sei lá... Quanto tempo mesmo?
- Deixe-me ver as horas – Tatiana pegou o celular da bolsa, fitou o visor e arregalou os olhos. – FILHO DA PUTA! SÃO QUATRO DA TARDE. Meu caralho, oito ligações perdidas. Ai o que eu vou fazer agora.
Tatiana se levantou, sei lá por qual motivo, e percebeu que estava bêbada. Nenhuma surpresa. Falou consigo em voz alta que estava bêbada algumas vezes. Ok, eu iria ouvir muito naquele momento. E ouvi. Merecido, eu sei. Ela então, entre um sermão e outro sobre como sempre acabo fudendo com a vida dela, ficou tentando pensar em alguma solução para aquela situação. Quase três horas de almoço e ainda estava bêbada. Não bastante, era final de mês. Tatiana, você está de parabéns!
- Parabéns está o seu cu, seu desgraçado – Tatiana se sentou para tentar colocar um pouco de ordem em sua cabeça. – Como eu deixo você fazer essas coisas comigo? Sério? Por que você faz isso comigo? E agora?
Não tinha motivos para pânico. Bem, claro que ela tinha. Como não era o meu que estava na reta, não achava que tinha motivos para tal. Dei uma sugestão para ela que topou na hora. Com o meu celular liguei para o trabalho dela e pedi para falar com o chefe. Expliquei quem eu era, que tínhamos ido almoçar e que provavelmente algo caiu muito mal. Tanto que Tatiana começou a vomitar logo após sair do restaurante. Para dar mais credibilidade, disse que tínhamos ido ao tal restaurante a quilo, o que ela sugeriu logo de início, e que de cara achei o lugar um lixo. O chefe concordou e complementou falando que sempre ficou inconformado com ela indo naquele lugar. Fechei dizendo que estava levando Tatiana a uma emergência para fazer lavagem ou algo do tipo, antes que fosse tarde demais. O chefe devia ser um paspalho por comprar a minha conversa mole. Literalmente mole, inclusive, pela fala de língua já meio boba.
- Pronto – sorri para Tatiana. – Resolvido. Não precisa de pânico.
- É fácil falar isso quando não é você que amanhã vai virar a noite para colocar tudo em dia.
- Por isso que hoje, já antecipando a merda que vai ser amanhã, vamos tomar um porre hoje.
- Encher a cara até tarde em uma segunda-feira faltando ao trabalho. Veja a que ponto chegamos.
- Até tarde não! Até as seis horas no máximo. Não se esqueça que tenho um compromisso com a Juliana.
- Para o caralho com esse compromisso. Pode cancelar agora e pouco me importa que seja com ela. É o mínimo que pode fazer nesse momento.
Não retruquei. Ficamos apenas nos encarando. Tatiana queria levantar uma das sobrancelhas para enfatizar a sua posição de definir algo, só que estava tão bêbada que tudo que conseguiu foi ficar com um olho mais arregalado que o outro. Vendo que não tinha para onde correr, peguei o celular e liguei para Juliana. Ela ainda estava esperando ser chamada para a entrevista. O que foi ótimo. Mandar apenas uma mensagem soaria frio, sem cogitar que na cabeça dela poderia passar a ideia que achei uma merda a nossa manhã e já estava correndo. Expliquei uma história em que a Tatiana estaca com problemas pessoais e precisava de um ombro amigo para conversar. Juliana tinha certa relutância em assimilar a minha amizade com a Tatiana. Ao fim entendeu, sugeriu algumas coisas e pediu que reservasse na minha agenda o início da sexta-feira até a manhã da segunda-feira só para ela. Claro que não negaria.
- Pronto – falei para Tatiana guardando o celular no bolso. – Cancelei com ela. Está satisfeita? Ela ainda me obrigou a ficar com você o resto do dia, inclusive te hospedar lá em casa. Está feliz agora? Você só fode com a minha vida mesmo.
- E você é um grande filho da puta mesmo.
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